Por que escrevemos?
 



Cronicas

Por que escrevemos?

Ana Schuch


Escrevemos porque nosso dia não foi bom, porque vimos alguém fazer algo que nos incomoda, porque temos algo mal resolvido no passado. Escrevemos porque não concordamos com os políticos, com nossos professores, com nossos pais. Escrevemos porque esquecemos de dizer que amamos alguém semana passada. Escrevemos porque nosso cachorro está doente ou porque esquecemos de colocar açúcar no café, e estranhamos o amargo pela manhã.

Escrevemos porque temos saudade do bolo da nossa avó, porque lembramos daquele aniversário quando éramos crianças, mas esquecemos dos presentes. Escrevemos porque a última viagem que fizemos nos abriu os horizontes para coisas que ainda não conhecíamos ou porque entrar no mar aquele final de semana foi a melhor experiência que tivemos em meses.

Escrevemos porque ficamos chocados com o noticiário pela manhã ou porque aquele filme nos comoveu de noite. Escrevemos porque não achamos graça naquela piada que o amigo contou ou porque demos muita risada quando nosso cônjuge esqueceu o guarda-chuva naquele dia nublado e chegou em casa todo molhado.

Escrevemos porque estamos preocupados com a superpopulação no planeta ou com a crise da água, escrevemos porque nossa prima se tornou vegana e porque aquele prédio histórico que fica no centro pegou fogo. Escrevemos porque vemos as mudanças e queremos compreendê-las, porque o mundo é muito maior que nosso quarto, porque nos sentimos pequenos, mas precisamos fazer diferença.

Escrevemos porque nossa alma pede, porque tem uma parte de nós que transborda nas entrelinhas, porque o dia a dia não é suficiente. Escrevemos porque precisamos, mais do que apenas porque queremos, precisamos deixar uma mensagem, precisamos expor nossa subjetividade, precisamos mostrar o que notamos além do que apenas vemos. Escrever é uma arte, mas é também um alicerce que dividimos para suportar o mundo, para expor o mundo, para reconstruir o mundo. É uma tentativa, um apelo, um grito e um chamado, de socorro e de ajuda, de amores e ódios, de tudo que temos, de tudo que somos. Escrevendo o íntimo que se disfarça, querendo ser evidente e escrevemos porque queremos encontrar com o íntimo do outro, a alma do outro, a verdade do outro. Escrevemos para causar um efeito, para trazer a luz o que notamos encoberto. Escrevemos para transcender e para permanecer, para esvaziar de nós e para preencher as lacunas de que lê.


Ana Schuch nasceu em agosto de 1987. Formada em diversos cursos profissionalizantes, encontra na escrita um lugar de fala. Nascida em Porto Alegre, onde residiu por muitos anos, atualmente mora em Florianópolis, Santa Catarina. É aluna do Curso Online de Formação de Escritores.

 

Cadastre-se para receber dicas de escrita, aviso de concursos, artigos, etc publicados no portal EscritaCriativa.com.br